meu segundo episódio do meu falecido podcast chama-se “eu vou xingar muito no Twitter”. pra ser muito sincera, eu não me lembro de UMA palavra sequer que eu disse naquele episódio e também não estou muito atraída pela ideia de escutar de novo pra descobrir. eu tenho a vaga lembrança - posso estar equivocada - de que era um monólogo sobre como essa rede social funciona. mas, apesar disso, eu estou bastante atraída pela ideia de falar novas coisas sobre o Twitter, dessa vez escrevendo e numa plataforma que nunca usei pra expor o que eu penso. vou falar sobre como o Twitter NÃO DEVERIA funcionar.
primeiro, eu gostaria de listar os meus nojos atuais sobre o twitter:
pagar por coisas que anteriormente eram de graça (ok, eu sei que esse é o percurso natural do mercado digital. você tem a versão beta, experimenta, ama, vicia e depois tem que pagar pela versão oficial que nada mais é que o beta, só que pago. convenhamos, pouca coisa muda do beta para a versão oficial. mas eu tenho ódio colossal por tudo que eu preciso pagar pra ter, quando eu já tinha. é tipo dar um pirulito pra uma criança e depois arrancar da boca dela);
selo de verificado (eu poderia discorrer páginas e páginas sobre eu achar que isso é vender a alma pro Elon Musk a troco de umas migalhas de aprovação social, mas eu estaria militando demais, tenho preguiça. vou esperar e deixar pro black mirror fazer um episódio criticando isso);
falar em militância…
militância ao vivão em cima de pessoas que não são figuras públicas (nesse aqui eu poderia discorrer muito mais. e eu enfatizo que não são figuras públicas, porque eu não me lembro de nada que minhas amigas tweetaram ONTEM, mas se fosse a Virgínia, talvez reverberasse por meses. e meu nojo disso é porque, veja bem, no twitter eu posso dizer que gostaria de cometer s**c**** sem causar alarde, mas se eu disser que não gosto de idosos no transporte público eu vou tomar uma latada na cabeça. e a verdade é que as redes sociais dão a falsa sensação de que o que você fala é relevante para o mundo. mas não é. o twitter é a fila de banheiro de balada que você conversa, fala coisas que você acha que são importantes e revolucionárias por minutos e depois ninguém lembra nem do nome de ninguém, nem do rosto e nem do que foi dito. mas pra quem sofre o cancelamento, vira um trauma);
política (aqui eu vou causar um pouco de espanto, já que passei toda vida sendo militante. militante na vida real, quero dizer, não no twitter. só que quando você amadurece um pouquinho - bem pouquinho mesmo - você percebe que o movimento de tentar fazer alguém irredutível mudar de ideia é uma tarefa que beira a imbecilidade, uma vez que é um trabalho tão útil quanto uma bicicleta é para um peixe. especialmente no twitter. porque cada vez que você insinua que o pensamento de alguém é minimamente equivocado, a pessoa sente ainda mais raiva e aversão a tudo o que você fala e pensa. poucas pessoas estão flexíveis para mudar seus ideais e, acredite, essas pessoas que estão dispostas não tem twitter. sobre esse assunto, vide este artigo interessantíssimo sobre viés de confirmação).
eu certamente devo ter nojo de outras coisas que envolvem essa caixinha de pandora que é o Twitter, mas eu não lembro agora. meu mundo ideal é um twitter com tweets temporários. pra quem não sabe, eu sou adepta do whatsapp com mensagem temporária. muita gente tem ódio disso, perguntam se eu faço parte de crime organizado, se estou envolvida com tráfico ou política. a verdade: eu não tenho memória no celular e não preciso de nada do meu passado. às vezes me faz falta o print de uma conversa de um mês atrás pra provar que eu estou certa e que a pessoa foi, sim, a idealizadora do pior rolê que já fomos na vida. mas no fim eu entro numa autorreflexão de que eu não preciso provar nada para ninguém. acaba que é bem saudável. te poupa um assunto pra terapia.
eu acho que os tweets temporários seriam o suficiente para tornar o twitter minimamente saudável. duração de 48h. você tweeta, quem viu, viu. quem não viu, não vê mais. se for uma merda colossal e te derem um fecho, some em 2 dias e ninguém vai ter provas de que aquilo aconteceu. a não ser que tirem print, mas aí que tá! a gente usa a tecnologia da visualização única. você já tentou gravar a tela ou printar uma foto de visualização única? se você nunca tentou, te dou um spoiler: não dá! e isso seria suficiente para tornar o twitter uma coisa amena, efêmera, algodão doce na água. o arroba itachilenhador2323 com foto do Eren de Shingeki No Kyojin fez apologia a coisas incorretas? não se preocupe com ele, o tweet vai sumir e a legião de fãs não vai durar mais que 2 dias. e, de qualquer forma, esses caras vão existir de qualquer jeito, em qualquer lugar. é a nossa sina ter que lidar com gente meio tosca. mas minha ideia é quase perfeita. para mais ideias, devs, me contratem.
agora surgiu o Threads. minha mãe me mandou solicitação para me seguir lá hoje à tarde. o problema é que eu ainda não escolhi minha personalidade para aquela rede social. muita gente tem falado isso, mas é um dilema real pra mim. não sei se sigo a linha stories, close friends por escrito, twitter Family Friendly ou exposição sincerona. e enquanto eu não me decidir, também não vou conseguir decidir o público que vai ver o que eu publico. não que eu tenha algo a esconder, mas nem todo mundo vai saber lidar com as piadas mórbidas ou com as declarações sobre desejar pular do sexto andar da Faculdade de Medicina da USP. tudo isso porque a hipérbole no twitter é apenas e só isso: uma hipérbole. a graça mora no exagero. ninguém liga, todo mundo sabe que você tá digitando isso sentado no refeitório batendo um pratão por 2 reais. e, apesar de eu não ser relevante, eu ainda estou suscetível ao cancelamento. e, meus amigos, eu tenho problemas com autoaceitação, eu preciso no mínimo não sofrer rejeição em massa. não precisa me aceitar, mas rejeitar?? NUNCA!
enfim, aqui vai tudo o que eu acho sobre o Threads em prós e contras:
Prós
sem limites de visualização diária;
portabilidade dos seguidores do instagram;
não pode falar coisas inadequadas ou usar termos específicos que você falaria no twitter, senão você toma ban;
geralmente você tem uma identidade real, sem se esconder atrás de user ou ícone, o que também poupa a quantidade de merda a ser postada;
o logo é bem bonitinho;
não tem o Elon Musk;
aliás, a maior parte dos funcionários que o Elon Musk demitiu, o Mark Zuckerberg foi lá e contratou pro Threads e o Elon ainda tá querendo processar ele.
Contras
sua timeline não tem algoritmo, você recebe tudo de todos os lados possíveis, até de quem você não segue;
pra apagar o Threads você vai precisar apagar a conta do instagram;
as pessoas que nunca usaram uma rede social como essa, usam para biscoitar ou implorar por uns grãos de engajamento, o que é levemente irritante.
os posts por agora tem sido bem monotemáticos: “nossa, como usa isso?”, “tentando entender essa rede”, “esse será o novo twitter”, “cheguei, pessoal”. se você é uma mulher em sua fase de TPM, isso é muito, muito, muito incômodo.
muita publicidade;
design muito feio, nada fácil de ler. muito difícil saber se aquilo é um post novo ou resposta ao post anterior, porque o que define isso é uma simples, fina e quase invisível linha.
e é isso. apesar de ter cedido e experimentado a nova rede, tenho a sensação de que jamais abandonarei minha trindade do quintal do ócio: twitter, reddit e tiktok. já está muito bem estabelecido o que esses ambientes me propiciam, meu algoritmo já está bem treinado, eu não preciso de mais do que essa dose pra continuar os meus dias. meu cérebro tem recebido informações fúteis o suficiente e o Threads nunca vai ser tão inusitado quanto uma comunidade extremamente específica do reddit ou quanto os perfis de colecionadores de miniatura que eu sigo no tiktok.
mas, de toda forma, boas vindas ao threads.